PRELÚDIO
Por A Casa de Vidro.com
Até a ONU limpou a barra de São Pedro e afirmou que ele não tinha culpa no cartório.
Mas o eleitorado paulista fez-se de avestruz, enfiou a cabeça debaixo da terra. Não quis dar atenção a papos de culpas tucanas, de más-governanças que arrastam-se por anos, de desprezos e negligências criminosas da parte de gestores públicos eleitos (supostamente) para cuidar do bem público… Não: o Estado de São Paulo foi às urnas ao fim de 2014 e mostrou-se fiel ao elitismo e ao bandeirantismo, ao reacionarismo e ao que-siga-tudo-como-está-por-pior-que-tudo-esteja.
Ainda de joelhos diante da ideologia burguesa pró-imperialista e conivente com o projeto neo-liberal (Naomi Klein prefere chamá-lo… The Shock Doctrine), a maioria dos eleitores de São Paulo – ainda que todos tussam com a atmosfera poluída, e que ninguém possa se dar ao luxo de beber a água-esgoto do Tietê e do Pinheiros, e que ninguém escape do stress num trânsito tão tartaruga e caótico quanto o de Sampa…. – ainda assim triunfou o continuísmo. E São Paulo vive hoje, além da infelicidade de uma crise hídrica sem precedentes, uma desgraça suplementar: elegeu para governá-la justamente quem causou a catástrofe toda. E quem fez tamanha lambança, parece-me, é quem não merece nossa confiança para sanar a tragédia.
Beira o inacreditável: a olhos vistos, de modo escancarado, os reservatórios da Cantareira ia secando; e o governo do PSDB sempre negligente quanto à isto, motivado por sua costumeira cegueira privatista, que leva políticos tucanos a sempre colocarem os lucros privados acima e à frente do cuidado com o bem público. No caso, o PSDB, por anos a fio, demonstrava com provas mil aos paulistas que quisessem prestar atenção o quanto era inapto e incompetente para uma prestação digna dos serviços públicos, universais e gratuitos, instituídos na república brasileiras e garantidos por constituição…
O modelo tucanista – a doutrina do choque neoliberal – já demonstrou mundo afora, desde a época de Pinochet, Reagan e Tatcher até nossos dias atuais, ser um sistema consagrador de apartheids sociais gravíssimos, depredador dos serviços públicos, responsável por péssima distribuição de renda, autoritário a ponto de encarcerar em massa os espoliados pelo sistema, endoidecido pela mentalidade do consumismo predatório de recursos naturais não renováveis… Enfim: um modelo que, de tanto queimar petróleo e carvão, de tanto derrubar florestas biodiversas inteiras, de tanto ignorar os limites da biosfera, de tanto pôr lenha na fogueira do individualismo e da sanha de lucros e confortos, trouxe-nos a esta crise planetária do Aquecimento Global com a qual teremos que nos defrontar pelo século afora, e com grandes potencialidades de hecatombes com perdas incalculáveis para a biosfera.
O caos climático, como é cada dia mais evidente, torna-se dia a dia mais exacerbado, a ponto de já golpear-nos com tsunamis, furacões, estiagens e outras “agressões” de Gaia contra os desequilibrados e desequilibradores que somos. Naomi Klein diz ter visto a cara do futuro: ele tem o rosto de New Orleans depois da passagem devastadora do Katrina.
Nas eleições, a maioria dos eleitores de SP manifestaram-se pró-Aécio, pró-Alckmin, pró-Propriedade, Polícia e Possessividade, ídolos aos quais devotam-se as elites econômicas-e-políticas deste autêntico “Tucanistão” que é São Paulo. Sinto que há uma epidemia de coxinite aguda nos paulistas; que, em massa, eles deixam-se embevecer e embrutecer por um antipetismo fanático, que é instilado nas mentes conformistas por sumidades políticas tucanas e vexaminosos panfletos da direita empresarial, travestidos de órgãos de imprensa… refiro-me, é claro, a publicações como a Veja, da Editora Abril. Ela, que foi tão vil às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais que, faltando à verdade que seria seu dever honrar, preferiu vomitar calúnias e difamações contra Dilma e Lula, ao invés de escancarar que os autênticos mentirosos de campanha eleitoral eram Alckmin e Aécio – que negaram-se a admitir que havia um Problema da Água já com seus tentáculos sobre os territórios outrora controlados pelos lordes da República-do-Café-Com-Leite.
Dá vergonha de ter nascido paulista ao descobrir quão reacionários e coxinhas agiram os paulistas nas urnas, quão mau-informados estão sobre a realidade ecológica e ambiental que sustenta toda a biodiversidade da Teia da Vida ao sul do Equador, e quão auto-sabotadores e quase masoquistas foram os paulistas ao re-elegerem para o mandato de 2015 a 2018 este senhor, Geraldo Alckmin, que foi tão incompente e mau gestor que trouxe a mais de 15 milhões de pessoas esta situação de escassez brutal e crônica da água. Geraldo Alckmin é um tipo tão Opus Dei que dá medo de que por detrás da gravata e dos óculos encontre-se um apoiador de Cruzadas e Inquisições… “Lázaro ou alguém, nos ajude a entender!” – canta o rapper Criolo, pedindo que a gente convoque nossos budas, pois parece que ainda não existe amor em SP – pelo menos não dentro dos palácios de governo e escritórios corporativos (nas ruas… ah, lá há amor em ebulição encontrável em profusão!).
Quem nos ajuda a entender como Alckmin pôde ser re-eleito? Foi um governo responsável por repressão policial grotescamente truculenta, como na desocupação forçada da comunidade do Pinheirinho em São José dos Campos, ou na barbárie executada pelas Tropas de Choque responsáveis por reprimir e silenciar Junho de 2013. Mas, pergunto: de que serviu a brutalidade toda, que os tucanos mandavam a PM exercer nas ruas? Ddiantou de algo para tirar força dos movimentos sociais que em 2013 causaram uma ebulição das ruas que não se via desde as Diretas Já ou do Fora Collor? O MPL hoje está maior do que nunca… Boulos e o MTST estão botando pra quebrar… Fora do Eixo e Mídia Ninja nunca estiveram tão na crista-da-Onda… Enquanto éramos bombardeados pelo gás lacrimogêneo, germinavam e multiplicam-se os projetos e as parcerias, as solidariedades e as trocas de informação, os arranjos anarco-democráticos de improviso, as filiações a PSÓIS e outros partidos libertários; enfim, vicejavam experimentos existenciais-políticos que são oficinas de fermentação de uma realidade social nova, e que já está operante e agente nestas “redes de indignação e esperança” de que nos fala o sociólogo espanhol Manuel Castells.
Alckmin e suas tropas armadas de tefesa do Tucanismo Perpétuo desvelaram nos últimos anos o quão intensamente têm por base de sustentação o terror estatal institucionalizado, o complexo militar-policial inchado e com elefantíase; é um Estado autoritário – típico de um pesadelo de Kafka – e que não economiza nas bombas de gás lacrimogêneo e outros meios de repressão do aparato militar. Procura sufocar a democracia popular autêntica através do terrorismo legalizado e a repressão tóxica das bombas de (def)eito moral . O ódio à democracia e os rompantes autoritários, que são restolho e legado da Ditadura que São Paulo esqueceu-se de enterrar, até hoje insistem em perdurar na atitude da dinastia política tucana que as urnas insistem em declarar hegemônicas.
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Foi algo que pensei agora, neste Janeiro de 2015, em meio a uma mega-manifesta do Passe Livre em São Paulo: enquanto nossos ohos ardiam com o gás lacrimogêneo, caminhavámos e cantávamos e batucávamos pela rua da Consolação, talvez muitos de nós com a consciência expandida de nossa interconexão e interdependência, cientes de sermos coparticipantes de um projeto comum, de sermos conviventes no seio de um mundo comum e uma condição humana que a todos irmana. Na maré de gente, junto com cerca de 30 mil humanos, conterrâneos, compatriotas, copartícipes na aventura humana, de que todos e cada um participamos, tomando as ruas com o ímpeto dos entusiasmos cívicos, em meio a esta festa da participação e da solidariedade, fui ensinado através das narinas e dos globos oculares, com um conhecimento que vem das vísceras e que emerge da experiência vivida mesmo, que infelizmente ainda é muito forte, nas elites que governam São Paulo, a mesma mentalidade que, em 1964, instaurou pela violência bruta e pela tortura em massa um regime ilegal, assassino, de 21 anos – e que no Tucanistão até hoje muitos aplaudem.
Ultimamente, pipocaram na internet alguns memes bastante perspicazes no trato com a calamidade em curso na Paulicéia Desvairada, que vivencia uma seca e uma crise hídrica de proporções épicas. Gosto em especial do slogan sarcástico “Em terra de tucano… quem toma banho é rei!” e da campanha “São Pedro é inocente!” A dinastia tucana que em breve completará 24 anos no comando do governo do estado de São Paulo trouxe a maior megalópole da América Latina à esta catástrofe seguindo à risca os ditames do capitalismo neoliberal: a Sabesp, tucanada e semi-privatizada, atingiu durante os governos Alckmin índices estratosféricos de lucro, para alegria de um punhado de felizardos na Bolsa de Valores, que puderam ficar milionários enquanto um serviço público essencial era sucateado e negligenciado. Este conluio entre a elite política do Tucanistão e os mega-empresários cheios-da-nota em Wall Street, com apoio da velha mídia burguesa que sempre esconde debaixo de tapetes gigantes os mega-escândalos de corrupção envolvendo o PSDB, trouxe-nos à beira da eclosão de turbulências sociais extremas.
Em meio às dúvidas e inquietudes que nos assolam em meio à uma crise desta magnitude, pergunto-me: São Paulo vai virar Detroit? A megalópole vai começar a expulsar população? Vem aí um êxodo em massa na Paulicéia Desvairada? Encaminhamo-nos para um cenário semelhante ao da Bolívia, quando a privatização da água em Cochabamba fez explodir algumas das mobilizações de massa mais significativas da história latino-americana recente? As Guerras da Água estão prestes a tomar conta do mainstream assim que não for mais possível às autoridades tucanas tapar o sol com a peneira? Com o exacerbamento do aquecimento global e os fracassos reiterados das Cúpulas do Clima da ONU, São Paulo servirá para o mundo como exemplo da tragédia coletiva imensa gerada por sistemas de exploração predatória de recursos naturais? Ou será que a crise em São Paulo causará uma maré montante de consciência ecológica e um aumento das manifestações de massa em prol da preservação da Amazônia, do Cerrado, dos imprescindíveis rios voadores e das cruciais florestas tropicais? Perguntas que deixo no ar – e convido, na sequência, os leitores desta Casa de Vidro a seguirem a leitura e a reflexão com algumas das matérias mais interessantes e pertinentes publicadas na cyber-imprensa nos últimos tempos. Voilà:
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IVAN VALENTE EXPLICA COMO FUNCIONA O ESQUEMÃO DO TUCANISTÃO
(CLICK PARA VER MAIOR):
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Para muitos, o racionamento de água em São Paulo já é uma realidade líquida e certa. Resta saber até quando políticos ganharão tempo para escondê-la ou se a população agirá, a ponto de, quem sabe, se repetirem as chamadas ‘guerras da água’, já vistas em locais onde os serviços hídricos e sanitários foram privatizados. De toda forma, o assunto não é passageiro e exige toda uma reflexão a respeito dos atuais modelos de vida e economia.
“Em primeiro lugar, é preciso reeducar a população a reduzir o consumo. As empresas também, pois quando se fala em redução de consumo parece que só a população consome. Mas, no Brasil, 70% da água é consumida pela agricultura, 22%, pela indústria e 8%, pelas residências. E quando se fala em redução de consumo, só se fala dos 8%, mas não dos 92%”, afirmou Marzeni Pereira, tecnólogo em saneamento da Sabesp, em entrevista ao Correio da Cidadania.
Na conversa, Marzeni elenca uma série de razões históricas, desde as locais até as mais abrangentes, que levaram São Paulo à atual crise hídrica, cujas consequências ainda não foram quantificadas. Trata-se de mais um fracasso do modelo de gestão privatista, de mãos dadas com um projeto desenvolvimentista que tem gerado mudanças ambientais em todos os grandes biomas do país.
“A Sabesp é a empresa mais preparada do Brasil para gerir o sistema de saneamento. Tem o melhor corpo técnico, a melhor estrutura etc. O problema principal é justamente a administração voltada ao mercado e ao lucro. Além disso, a empresa, sem dúvida, vem sofrendo sucateamento. Em 2004, tinha 18 mil trabalhadores e sua base de atuação era menor. Hoje, a empresa tem menos de 14 mil. A terceirização é um dos principais problemas, por exemplo, na perda de água”, explicou, em relação ao contexto paulista.
Por outro lado, Marzeni não deixou de fora toda a relação com um modelo já há décadas hegemônico. “No ano passado, em torno somente de soja, carne, milho e café, o Brasil exportou cerca de 200 bilhões de m³ de água. Significa abastecer São Paulo por quase 100 anos. A umidade atmosférica, mantida através dos chamados ‘rios voadores’, que vêm do Norte do Brasil e precisam da continuidade da vegetação, foi reduzida. A atuação do agronegócio, quem mais desmata, teve influência em SP. E teve também o desmatamento de todo o centro-oeste do estado”, resumiu.
A entrevista completa com Marzeni Pereira, realizada nos estúdios da webrádio Central3, pode ser lida aqui.“
Via ECODEBATE
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“Desde os alertas ambientais dos anos 90 (a Rio 92, como indica o nome, aconteceu no Brasil há 22 anos) essa é uma probabilidade que deveria estar no monitor estratégico de governantes esclarecidos. Definitivamente não se inclui nessa categoria o tucanato brasileiro: em 2001 ele já havia propiciado ao país um apagão de energia elétrica pela falta de obras e a renúncia deliberada ao planejamento público. Os mercados cuidariam disso com mais eficiência e menor preço – ou não era isso que se falava e se volta a ouvir agora sobre todos os impasses do desenvolvimento brasileiro? Ademais de imprevidente, o PSDB desta vez mostrou-se mefistofelicamente oportunista na mitigação dos seus próprios erros. Ou seja, preferiu comprometer o abastecimento futuro de milhões de pessoas, a adotar um racionamento preventivo que alongaria a vida útil das torneiras, mas poria em risco o seu quinto mandato em São Paulo.
É importante lembrar em nome da tão evocada liberdade de imprensa: a dissimulação tucana não conseguiria concluir a travessia eleitoral sem a cumplicidade da mídia conservadora que, mais uma vez, dispensou a um descalabro do PSDB uma cobertura sóbria o suficiente para fingir isenção, sem colocar em risco o continuísmo no estado. É o roteiro pronto de um filme de Costa Gavras: as interações entre o poder, a mídia, o alarme ambiental e o colapso de um serviço essencial, que deixa uma das maiores metrópoles do mundo no rumo de uma seca épica. O PSDB que hoje simula chiliques com o que acusa de ‘uso político da água’, preferiu ao longo das últimas duas décadas privatizar a Sabesp, vender suas ações nas bolsas dos EUA e priorizar o pagamento de dividendos a investir em novos mananciais. Há nesse episódio referencial um outro subtexto para o filme de Costa Gavras: a captura dos serviços essenciais pela lógica do capital financeiro.
Enquanto coloca em risco o abastecimento de 20 milhões de pessoas, revelando-se uma ameaça à população, a Sabesp foi eleita uma das empresas de maior prestígio entre os acionistas estrangeiros. Mérito justo. Como em um sistema hidráulico, o dinheiro que deveria financiar a expansão do abastecimento, vazou no ralo da captura financeira. Encheu bolsos endinheirados às custas de esvaziar as caixas d’água dos consumidores.” – SAUL LEBLON, editorial de Carta Maior
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“O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, esforça-se para encontrar um culpado pela crise de abastecimento que assola o estado de São Paulo, em especial a capital. Em um primeiro momento, o alvo foi São Pedro, o santo com preferências partidárias que ordenou que suas nuvens permanecessem longe das terras bandeirantes. (…) A Sabesp, sob a tutela do governo tucano, escolheu bater recordes na Bolsa de Nova York em vez de educar seus clientes sobre a natureza limitada dos recursos hídricos. O resultado: ao passo que transformava investimentos necessários para a manutenção do abastecimento em “distribuição de dividendos” milionários, a Sabesp deixou de criar novos sistemas de captação e sobrecarregou o Sistema Cantareira a ponto de reduzi-lo a 3% de sua capacidade total. (…) Em 2012 e 2013 não foram tomadas medidas para proteger o Sistema Cantareira da mais severa estiagem registrada em toda a série histórica. Paralelamente, foram os dois anos nos quais se obtiveram os maiores lucros líquidos da história da companhia e de distribuição de dividendos, valendo observar que, nesse período, o Sistema Cantareira foi responsável por 73,2% da receita bruta operacional da empresa, denotando a superexploração daquele sistema produtor, que não mais conseguiu se recuperar diante da gravidade do atual evento climático de escassez”, cravam os promotores.Aos números: desde 2004, quando recebeu a outorga para utilização do Cantareira, a Sabesp lucrou cerca de 12 bilhões de reais. Desse total, quase 4 bilhões foram direto para o bolso dos acionistas. Em 2012 e 2013, anos citados na ação civil pública como recorde de lucros da estatal, os repasses aos acionistas somaram 500 milhões e o lucro ficou na casa de 1,9 bilhão de reais. Desse total que foi para as mãos dos acionistas, 73% saiu da destruição do Sistema Cantareira. Além de sobrecarregar o Cantareira para manter os altos lucros, a Sabesp, não por falta de dinheiro, deixou de planejar e executar novas obras de captação. Entretanto, desde 2004, quando da concessão da outorga para uso por dez anos do Cantareira pela Sabesp, a Agência Nacional de Água já alertava sobre a necessidade de investimentos nessas novas fontes. (…) Não foi o que ocorreu. Em uma década a Sabesp não criou nenhum novo sistema produtor.” – FÁBIO SERAPIÃO na CARTA CAPITAL
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Chico Alencar, no Viomundo, esclarece as razões para demandar o impeachment de Geraldo Alckmin:
“Por mais que devamos nos preocupar com o aquecimento global e adotar políticas ousadas para seu enfrentamento, não é essa – nem meramente a falta de chuvas – a principal razão para a pane no sistema de abastecimento de água. A Relatora das Nações Unidas para a questão da água, Catarina de Albuquerque, é categórica: a crise hídrica em São Paulo é de responsabilidade direta do governo estadual. A avaliação do Ministério Público é semelhante. A promotora Alexandra Facciolio afirma: “Estamos passando por esta situação porque o planejamento falhou. Não foi feito o que era necessário”. Segundo diversos especialistas, os vinte anos de gestão estadual do PSDB não providenciaram os investimentos necessários para garantir o equilíbrio do sistema de abastecimento de água, com capacidade de suportar períodos de estiagem. A privatização da gestão, controle e distribuição da água, transformada em ativo financeiro e objeto de especulação nas bolsas de valores, é uma das maiores razões para isso. Para a Relatora da ONU, “os recursos deveriam estar sendo investidos para garantir a sustentabilidade do sistema e o acesso de todos a esse direito”, ao invés de remunerarem lucros de acionistas da Sabesp, empresa mista responsável pela gestão do sistema, e que tem quase 50% de suas ações distribuídas entre bolsas de SP e de Nova Iorque.
Segundo o economista Bruno Peregrina Puga, “os anos recentes têm sido generosos com os acionistas da Sabesp, sempre pagando um payout elevado, ao passo que o investimento não tem acompanhado a mesma intensidade crescente do lucro”. Além disso, estudo da Fundação SOS Mata Atlântica mostra que o desmatamento intenso de quase 80% da vegetação nativa da bacia hidrográfica da Cantareira é um dos responsáveis diretos pela crise de abastecimento. Com pouca vegetação, a floresta não consegue desempenhar o seu papel, de reabastecer os lençóis freáticos e impedir a erosão do solo e o assoreamento de rios, protegendo as nascentes e todo o fluxo hídrico. Mais uma grave omissão do poder público – inclusive deste Congresso Nacional, que produziu grave retrocesso ambiental nesta Legislatura, ao aprovar, em 2012 (com a nossa oposição), o novo Código Florestal, que criou condições mais favoráveis ao desmatamento e assoreamento de rios.
Além da instrumentalização mercantil e financeira, há evidência de grave e ilegal ingerência política eleitoreira sobre a Sabesp, em prejuízo da transparência da gestão pública. Diante dos áudios em que a diretora-presidente da SABESP, Dilma Pena, declara ter recebido ordens do governo do estado para esconder a grave crise de abastecimento de água em São Paulo, fica claro que o governo do PSDB colocou seus interesses eleitorais acima do interesse público. Com esse fundamento, o Deputado Carlos Giannazi, líder da bancada do PSOL na Assembleia Legislativa do Estado de SP, protocolou pedido de cassação do mandato do governador Geraldo Alckmin…”
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Crise hídrica revela relação sadomasoquista entre PSDB e povo de SP
por Eduardo Guimarães no Blog da Cidadania
“No âmbito da informação inexplicável de que, segundo o instituto Datafolha, 53% dos paulistanos culpam Dilma Rousseff e Fernando Haddad pela falta de água em SP, mas consideram que Geraldo Alckmin não tem culpa alguma, a aceitação dos paulistas a todo sofrimento que o governo tucano lhes impõe revela uma relação espantosa entre o governante e os governados. Daqui a três anos, onze meses e 26 dias, completar-se-ão VINTE E QUATRO ANOS de governos do PSDB em São Paulo. Nesse período, a situação no Estado degradou-se a olhos vistos, sobretudo do ponto de vista econômico. Mas, com o perdão pelo trocadilho, a aceitação bovina pelos paulistas dos problemas advindos da incúria do governo estadual na questão da distribuição de água fez essa relação quase sadomasoquista atingir o fundo do poço.”
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“Quando acabar a água serão interrompidas atividades que não são consideradas essenciais, com cortes para o comércio, para a indústria e o fechamento de locais com muito uso de água, como shoppings, escolas e universidades”, analisou o professor Antonio Carlos Zuffo, especialista na área de recursos hídricos na Unicamp. Parece exagerado, mas não é. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo desta quarta-feira (21), os seis mananciais que abastecem 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo têm registrado déficit de 2,5 bilhões de litros por dia em pleno período no qual deveriam encher para suprir os meses de seca.
Já em 2002, a Saneas, revista da Associação dos Engenheiros da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (AESabesp), publicava um texto no qual apontava “uma inegável situação de estresse hídrico”, a qual podia “ter um final trágico, com previsões de escassez crônica em 15 anos”. A Agência Nacional de Águas (ANA) apontava, na outorga de uso do Sistema Cantareira de 2004, que era preciso diminuir a dependência desse sistema. Em plena crise, na tentativa de renovação em 2014, havia uma tentativa de aumentar, e não diminuir, o uso do Cantareira. Ou seja, algo impraticável e ignorando as previsões. Não, a culpa não é de São Pedro…” – BRASIL POST
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“Ele está mentindo de forma reiterada. Já sabemos, há muito tempo, não é só na zona sul, nas zonas oeste e norte a falta de água é uma realidade constante”, aponta o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT).
O que pode acontecer quando um governador mente para a população que governa? Para o deputado estadual Alencar Santana (PT), a solução pode ser tirá-lo do cargo. “Do ponto de vista político, é passível de impeachment. Do ponto de vista jurídico, precisa ter cautela, pois teríamos que juntar provas e argumentos que nos levem a essa condição.”
Carlos Giannazi (PSOL), também deputado estadual, seguiu a mesma linha de cassação do governador e protocolou, no último dia 24 de outubro, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), um pedido de impeachment de Alckmin.
“Nenhuma ação governamental foi tomada [para conter a falta d’água]. Ao contrário, a crise foi ‘escondida’ para não prejudicar o processo de reeleição do governo estadual – um verdadeiro estelionato eleitoral praticado contra o cidadão paulista”, afirma o psolista, no documento que pede o impeachment do governador.
Giannazi tomou conhecimento da omissão do tucano quando a Fórum revelou áudios de uma reunião da Sabesp que mostram a presidenta da empresa, Dilma Pena, admitindo ter recebido “ordens superiores” para não comunicar à população a crise hídrica enfrentada no estado.” – REVISTA FÓRUM
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ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA PAULISTA
“E, de repente, um surto de cegueira acometeu São Paulo. Não se sabe se começou na avenida Higienópolis, na capital, ou se veio do interior. Há quem diga que o primeiro cego perdeu o senso de realidade em Ribeirão Preto. De repente deu de achar que estava na Califórnia. E a epidemia se espalhou silenciosamente pelo Estado, por todas as cidades e vilarejos.
Em 2014, nas eleições para o governo do Estado, a cegueira estava disseminada. Diferentemente do livro de José Saramago, onde uma mancha branca, um “mar de leite”, cegava um a um os habitantes de uma cidade fictícia, em São Paulo os cegos continuavam enxergando. Mas há tempos já se diz que o pior cego é aquele que não quer ver.
E eles não viram, ou apenas fizeram cara de paisagem, junto com editores cegos de jornais e revistas, do rádio e da TV. Tudo parecia normal durante a reeleição do “Geraldo”, alcunha de Geraldus Alckminus, da longeva dinastia tucana. “Não vai faltar água”, disse o governador pausadamente naquela campanha, ressaltando cada sílaba, na maior mentira deslavada da história recente do país.
E assim a maioria dos paulistas “acreditou” no que ele disse. Culparam São Pedro, o PT, e ignoraram solenemente os milhões que escorreram nos túneis do metrô e a violência que voltou a crescer. Se fizeram de Maria Antonieta no desmonte da educação e das universidades do Estado. Aplaudiram a PM esfolando manifestantes e matando jovens negros e pobres nas periferias. E sobretudo se fizeram de surdos quando alertados que a Cantareira estava baixando e que a água, logo logo, iria acabar.
No quarto mês de 2015, no início do quarto reinado alckmino, ano 20 da era tucana, muitos paulistas começaram a se dar conta da realidade. Talvez tenha sido o odor inebriante do CC no busão ou as louças amontoadas na pia. O cabelo ensebado por falta de banho pode ter ajudado. Cientistas suspeitam dos efeitos colaterais da água do volume morto.
Dizem que uma moradora dos Jardins acordou num surto psicótico depois que uma crosta de poeira havia se impregnado em seu carro de luxo. Nem decuplicar a oferta ao lava jato conseguiu driblar a realidade. “Esse atendimento não era gourmet?”, gritava, insana. Mas naquele dia já não havia mais água.
Não demorou a que o caos se instalasse. Todos correram aos supermercados para estocar o líquido precioso. As gôndolas ficaram rapidamente vazias. Em Itu, um caminhão de água foi sequestrado. Por toda a parte, havia registros de brigas, até por garrafinhas de 500 ml de água. E o preço foi às alturas. Em Pinheiros, uma rua cedeu depois que vários moradores cavaram poços clandestinos. A desordem se instalou. No Palácio dos Bandeirantes, longe de tudo e de todos, Alckminus tentava contornar a crise.
Desta vez, estava preocupado. O Maquiavel de Pindamonhangaba enxergava tudo muito bem e, com jeito de bom moço, já havia se tornado mestre em abafar CPIs na Assembleia Legislativa ou em mentir que a Corregedoria da PM funciona. Agora, estava sob grande pressão.
Ainda não havia sinal de nenhuma turba chegando ao longínquo Palácio dos Bandeirantes. O Choque da PM bloqueou o acesso ao Morumbi (com garantia de água à vontade, a fim de evitar um motim policial). O estoque de balas de borracha foi reforçado e um novo lote de gás lacrimogêneo fora usado contra manifestantes do Movimento Água Livre.
Contra o povo, Alckmin tinha a polícia. O que realmente o preocupava eram os 30 PIBs de São Paulo reunidos no Palácio (a quem foi oferecido champagne por razões de “restrição hídrica”, como explicou o cerimonial). Também apavoravam o governador as chantagens dos acionistas da Sabesp. Apesar do preço exorbitante, a falta d’água deixou a companhia deficitária, com as ações a preço de banana na Bolsa de Nova York, onde eram comercializadas desde a privatização parcial da empresa.
E assim os paulistas tentavam deixar a cidade, o Estado. Um grande congestionamento, que já durava uma semana, travou as rodovias. Na capital, moradores fugiam pelas ruas, carregando o que podiam, em uma cena dantesca. Uns deliravam e arrancavam as roupas, andando desorientados. A Força Nacional foi acionada. Já havia gente se jogando no Tietê.
Em meio à tragédia, os jornais traziam notícias otimistas. “Cacique Cobra Coral assegura que vai chover”, dizia a manchete de um deles, com declarações de Alckminus justificando a contração da “consultoria para deficiência hídrica”.
Analistas chegaram a prever um ataque da população ao Bandeirantes, mas pesquisas mostravam que grande parte dos paulistas ainda não tinha certeza sobre quem era o responsável pela crise da água, se Dilma ou Haddad.
Na dúvida, resolveram ir embora o mais rápido possível, com a fé abalada em São Pedro. Ainda mantinham a esperança de que, um dia, a cidade fosse inundar mais uma vez durante as chuvas de verão e que haveria água para todos (ou ao menos nos camarotes). Para muitos, a cegueira era irreversível.”
Publicado em: 23/01/15
De autoria: casadevidro247
SINAIS PROFETICOS: AQUECIMENTO GLOBA-CRISE HIDRICA–ADVERTÊNCIA DIVINA-E OUTROS SINAIS…
(MC.12.10) Ainda não lestes esta Escritura: (GN.5.1) No dia em que Deus criou o Homem à sua semelhança; (GN.6.12) viu Deus a terra, e eis que estava corrompida, porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra: (IS.59.15) O Senhor viu isso, e desaprovou o não haver juízo:
(RM.9.’) Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: (IS.24.5) Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto transgridem as leis, violam os estatutos, e quebram a aliança eterna: (SL.82.5) Eles nada sabem nem entendem, (SL.78.22) porque não creram em Deus, nem confiaram na sua salvação: (LC.8.25) Onde está a vossa fé? (JR.14.22) Acaso, haverá entre os ídolos dos gentios, algum que faça chover? Ou podem os céus dar chuvas de si mesmos? (MC.12.27) Laborais em grande erro:
(LV.18.27/28) Não suceda que a terra vos vomite havendo vós a contaminado, como vomitou o povo que nela estava antes de vós; porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra que nela estavam antes de vós, e a terra se contaminou: ((IS.55.11) Assim será a palavra que sair da minha boca: Não voltará para mim vazia, , mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei: (NM.24.4) Palavra Daquele que ouve os ditos de Deus, o que tem a visão do Todo-Poderoso e prosta-se, porém, de olhos abertos:(EZ.12.11) Eu sou o vosso sinal:
Arnaldo ou Israel
A Casa de Vidro Ponto de Cultura e Centro de Mídia
Arnaldo Ribeiro
Comentou em 24/06/15